O futebol no Brasil se profissionalizou em 1933. É certo que antes disso o esporte já havia se instalado como organização popular, mas a partir daí a coisa se oficializou. Com isso, pouco depois, houve um dos mais importantes torneios organizados da história do futebol brasileiro: o primeiro torneio inter-estadual profissional do futebol nacional.
O ano era 1937, e o trem da Central do Brasil seguia em direção a Belo Horizonte - num dos vagões, estavam os jogadores do Clube Atlético Mineiro - quem olhasse seus rostos saberia estar diante de um time vitorioso - a equipe retornava de São Paulo, onde batera a Portuguesa de Desportos por 3 a 2 e confirmara a conquista do primeiro torneio profissional de âmbito nacional organizado na história.
Promovido pela Federação Brasileira de Futebol, o torneio reuniu campeões estaduais do ano anterior, sendo o primeiro torneio do futebol brasileiro a contar com representantes de mais de dois estados - já contando com os campeões de 4 estados para testarem forças e coroar aquele que seria consagrado pela primeira vez com a soberania nacional - por São Paulo atuou a Portuguesa. Pela até então capital federal, Rio de Janeiro, atuou o Fluminense. O Rio Branco representava o Espírito Santo e o Galo, Minas Gerais.
A noite já caíra quando o trem enfim chegou à estação de Belo Horizonte, após dezoito horas de viagem. A cidade recebia o esquadrão com um carnaval eufórico. A diretoria do Atlético alugara táxis, que, com as capotas arriadas, levariam os heróis até o estádio de Lourdes. Sob gritos e aplausos, os jogadores caminharam até os automóveis. Os motoristas quiseram dar a partida para iniciar o desfile e a torcida não permitiu: "Fomos empurrando os carros, com os motores desligados até Lourdes." Ao som de uma banda de música, a Massa levou os jogadores.
Disputar aquele torneio e, mais ainda, vencê-lo com méritos, não foi nada fácil. As viagens eram sempre extenuantes. A estréia no torneio foi um fiasco, contra aquele que a imprensa nomeava como o favorito ao título, o Atlético sofreu, no Rio, uma senhora goleada para o Tricolor carioca: 6 a 0. Mas a partir daquele instante, o time não mais tropeçaria. No segundo jogo o Atlético goleou a Portuguesa em seu terreiro: 5 a 0. No terceiro jogo, foi até Vitória e conseguiu um empate com o Rio Branco, por 1 a 1. No quarto jogo, era o reencontro, desta vez em BH, com o Fluminense. De nariz empinado, salto altíssimo e certo de que a peleja estava ganha, o Flu via-se tomando o troco do Vingador de 4 a 1, quando aos 63 minutos de jogo abandonou o campo dando-se por vencido. Pelos resultados das outras partidas, o Atlético assumia a liderança da competição. Mais: se vencesse o Rio Branco no compromisso seguinte, em Lourdes, sagraria-se campeão. Isso, uma rodada antes do fim do certame - placar de jogo contra a equipe capixaba: 5 a 1 - "Atlético, o Campeão dos Campeões do Brasil", foi a manchete de alto de página do diário carioca Jornal dos Sports de 4 de Fevereiro de 1937. Tendo o título de campeão garantido com uma rodada de antecipação o Atlético foi a São Paulo apenas para honrar a tabela. Venceu por 3 a 2 os paulistas e agora voltava de trem para casa coroado. Era o Campeão dos Campeões!
Referências
- GALUPPO, Ricardo. Raça e Amor - A Saga do Clube Atlético Mineiro Vista da Arquibancada. BDA, 2003. Coleção Camisa 13. 173 p. ISBN 8572342818
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