sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

AS DÉCADAS DE OURO

     
GALO DE OURO, A SELEÇÃO DO POVO


      


    Há quem considere que o futebol tenha adquirido um novo patamar de qualidade após a revolução das gerações vanguardistas dos anos sessenta e setenta. Esse novo, dinâmico e vistoso futebol, transformaria para sempre nossa maneira de enxergar as organizações dos corpos dentro das quatro linhas. Diversas seleções e times foram montados ao longo dos anos trazendo diversas novas modalidades rítimicas e organizacionais de futebol. Para nós, atleticanos, existe uma convenção de que o nosso time dos anos 80 fora, sem dúvida, o escrete que praticara nosso mais sofisticado futebol. Há também quem defenda que o esquadrão que se desenhou nos anos 10 do século XI seria o maior Galo de todos os tempos, por conta de seus resultados dentro de campo, contando com as façanhas da Copa Libertadores da América de 2013, Recopa Sulamericana e Copa do Brasil de 2014. Todavia, aproveito a reflexão para dizer que, na verdade, dadas estruturas temporais, o nossa geração de maior potência foi o das décadas de quarenta e cinquenta. Sua escalação sobrevive ao longo das décadas na memória do torcedor; até os atleticanos que nasceram muito depois sabem: aquele era mais que um time, mas uma constelação.


Galo dos anos 50, com Lucas, Ubaldo, Haroldo, Zé do Monte, Afonso e Sinval


No cartaz, caricaturas dos craques de 52: na primeira fila, no alto, da esquerda para a direita: Zé do Monte, Yustrich e Gastão. Na segunda fila, no meio, da esquerda para a direita: Osvaldo, Ubaldo, Alfredo e Afonso. Na terceira fila, em baixo, da esquerda para a direita, Amorim, Lucas Maranda, Geraldino, Sinval e Haroldo.



         Na verdade, o futebol atleticano atingiu seu auge entre os anos quarenta e cinquenta. Sim, meus caros amigos, em meados dos anos quarenta e cinquenta foram formados os mais respeitados e completos esquadrões da história do futebol mundial, aqui mesmo nas Minas Gerais. Esquadrões esses formados apenas de jogadores de nível de seleção e, mais que isso, de jogadores verdadeiramente atleticanos, apaixonados pelo clube e sua torcida - não é atoa que essa geração dos anos 40 e 50, diferente das outras, permaneceu por quase toda carreira no mesmo clube. Como mesmo disse Zé do Monte: "meu futebol é só do Atlético", repetindo a oração de Mário de Castro. E foi também, essa geração, a responsável por gerar parte da identidade do Galo e da Massa.


Zé do Monte, um dos maiores ídolos alvinegros de todos os tempos


 Zé do Monte é um dos grandes exemplos de que essa geração moldou o Atlético. Tanto o grito de "Galo!", quanto o mascote desenhado por Mangabeira só foram possíveis porque desde os anos 40 o Atlético era chamado de Galo Carijó, e isso se dava por, além de, obviamente, ser um animal de penas pretas e brancas e por ser um animal comum, regional que representa uma idéia de vigor, mas sobretudo porque Zé do Monte, ao cultivar o costume de entrar carregando um grande e imponente galo no gramado, fora o grande responsável por cativar essa relação de identidade simbólica que se tornaria a marca de um povo. Zé do Monte, capitão, ainda incorporava o animal assumindo um estilo de jogo raçudo, imponente, com refinada classe. Não é atoa que o atleticano cobra dos seus jogadores que deem "raça" pelo time. Estamos acostumados com isso, porque essa é nossa essência, está no nosso hino, foi assim que nos formamos e aprendemos a ver e amar o futebol.

Sobre carreira, permanência e identidade com o clube, Zé do Monte disputou 320 jogos (dos quais venceu 206), em uma década inteira doada ao Galo (1946-1956). Monte foi um craque de dimensões planetárias. Quando a bola corria, era um leão. Nos clássicos de maior rivalidade, era comum seus rivais buscarem a agressividade para tirar Monte de campo. Ele costumava sangrar, levar pontos no intervalo dos jogos e voltar com a cabeça enfaixada. Jogava ainda melhor assim. Em dez anos como titular, foi oito vezes campeão daquilo que disputou.













Time do final dos anos 40. Em pé, da esquerda para a direita: Félix Magno (treinador), Mexicano, Zé do Monte, Afonso, Kafunga, Carango e Murilo. Agachados: Lucas Miranda, Carlyle, Lauro, Lero e Nívio.



Já Olavo Leite Bastos, o eterno Kafunga, jogou por vinte anos pelo Carijó da Massa (1930-1950). Mesmo dada altíssima concorrência, Kafunga é, por unanimidade, o maior goleiro da história do Atlético. Participou de toda estruturação do clube a medida que o futebol foi se modernizando. Kafunga era um goleiro destemido. Voava nos pés do atacante adversário e fazia qualquer barbaridade para evitar um gol. Senhor absoluto da posição ao longo de duas décadas, defendeu a meta atleticana em quase seiscentas partidas. Kafunga era obcecado por vitória. Para ele, cada treino era um jogo. E o jogo, a defesa da própria vida.

Murilo e Ramos formam aquela que é considerada mais perfeita dupla de zaga que já vestiu a camisa alvinegra - a maior zaga da história do Atlético perdurou e se entrosou por bom tempo - Ramos permaneceu por nove anos no Atlético, em um tempo onde a carreira dos jogadores era curtíssima (1941-1950). "Ramos era um beque poderoso", comenta Ricardo Galuppo, "cuidava de seu pedaço de área com zelo e precisão". Murilo Silva jogou por ainda mais tempo, chegando a doze anos no total (1944-1956). Enquanto defendeu as cores do Galo, Murilo esteve degraus acima dos outros grandes zagueiros do planeta. Murilo foi sem dúvida o mais eficiente zagueiro da história do futebol. Foi um dos poucos a terem conquistado o troféu Belfort Duarte, concedido a quem jogasse mais de dez anos sem ser expulso de campo. Um de seus adversários clássicos foi Petrônio, atacante do América entre 1946 e 1954, rapaz que cultivava um sonho impossível: fazer um gol no Atlético. Com Murilo em campo, Petrônio nunca fizera gol no Galo. No último encontro dos dois jogadores o americano saira de campo aos prantos - eram lágrimas de raiva - sem haver recebido uma única falta sequer, não conseguira se mexer em campo. Murilo simplesmente não deixava.

Zé do Monte, Kafunga, Murilo Silva e Mexicano: quatro dos maiores jogadores da história


Mexicano disputou 116 jogos com o manto alvinegro, entre 1946 e 1948, sendo bicampeão naqueles anos; apesar da curta passagem, ele é considerado pelos historiadores do atleticanismo como um dos maiores laterais-direito que vestira nosso manto em toda história do Atlético.

Carlyle, por exemplo, foi o jogador dessa geração que menos durou com a camisa do Atlético. Chegou a Lourdes em 1945, aos dezenove anos, e foi para o Rio de Janeiro em 1948. Por mais rápida que tenha sido sua passagem, Carlyle não foi figura menos importante, aliás, a passagem de Carlyle fora marcante e meteórica, ele foi por exemplo, o primeiro jogador alvinegro a jogar pela seleção brasileira (porque Mário de Castro havia recusado e Guará se machucado). De comportamento forte e mente brilhante, Carlyle foi o primeiro a fazer o tipo "rebelde" do futebol das Minas Gerais.

Lucas Miranda defendeu as cores do Atlético por uma década, entre 1944 e 1954. Lucas foi um dos maiores xodós da torcida durante sua época. Era conhecido como o "Artilheiro do Apagar das Luzes", por seus gols salvadores aos quase-finais de partidas. É o quinto maior artilheiro da história do Atlético. Fez parte do ataque dos "Capeões do Gelo".


Lucas Miranda, o "artilheiro do apagar das luzes", quinto maior goleador da história do Galo


Haroldo. Haroldo Lopes da Costa é sem dúvidas o maior lateral esquerdo da história do Clube Atlético Mineiro. Honrou a lateral esquerda alvinegra por uma década, entre 1950 e 1960, representando o Galo em alguns dos principais confrontos da história. Conta com 7 títulos mineiros além de ter sido o representante da nossa lateral canhota na vitoriosa campanha pelo continete europeu.

Afonso. Apesar da fama do entrosamento da dupla Murilo e Ramos, Afonso tem um lugar especial na defesa atleticana dos anos 40 e 50. O zagueiro é um dos mais longevos na história alvinegra. Vestiu a camisa do Galo por 14 anos, entre 1945 e 1958, conseguindo 9 títulos mineiros além de ser peça fundamental da zaga que excursionou pela Europa em 50.

Ubaldo fez 274 jogos e marcou 135 gols com a camisa Alvinegra. Além disso, venceu 6 títulos mineiros e é um dos principais jogadores na história do clube. Representou nosso ataque por mais de uma década, entre 1950 e 1961.

 "Quando Ubaldo começou a jogar na equipe titular do Atlético, no início dos anos de 1950, o time ressentia-se da ausência de um grande atacante. Depois que o Atlético perdeu Guará, no célebre acidente com Caieira, iniciou-se uma série de experiências â procura de um substituto à altura do grande ídolo.

Aí surgiu Ubaldo, um jogador sem uma técnica mais apurada, e olhado com desconfiança pela Imprensa, que o tachava de "estranho e esquisito". Sua maneira de jogar era diferente: velocidade e entusiasmo como características básicas, aliadas a uma determinação de perseguir a jogada até o fim, sem nunca desistir. Tentar o gol nas condições mais adversas, e, sobretudo, acreditar nas bolas impossíveis. Essa última característica faria dele depois um ídolo da torcida, quando marcava gols decisivos, chamadas de "espíritas" - não se sabia como, mas mesmo em jogadas complicadas e difíceis, a bola tocada por ele acabava no fundo das redes adversárias."


Ubaldo foi diversas vezes carregado nos braços da Massa por seus gols espíritas


O escrete alvinegro que sagrou-se pentacampeão em 1956.

Outro ponto importante ao se tratar do assunto de relevância de gerações, das competições existentes em sua época, o esquadrão dessas décadas se consagrou em todas as competições que disputou. É preciso ressaltar que das competições que o Atlético tinha pra disputar até os anos 50, sempre conseguia levantar troféus. Essas gerações dos anos 40 e 50 venceram tudo o que puderam. É tranquilo afirmar que o Galo dos anos 50, por onde viajou, conseguiu mostrar seu lugar de protagonismo no futebol nacional e nos amistosos internacionais. 

Esquadrão de 46 com Kafunga, Afonso, Murilo, Ramos, Mexicano, Haroldo e Zé do Monte


"No final dos anos 30, época em que a precariedade dos transportes transformava a viagem entre Belo Horizonte e São Paulo numa odisséia, a Federação Brasileira de Futebol reuniu num campeonato clubes de quatro estados, torneio vencido pelo alvinegro de Guará e cia, o consagrado Campeão dos Campeões Nacionais de 1937. Depois disso, voltou o retrocesso: os cartolas voltaram a confinar os clubes nos limites de seus territórios. Portanto não haviam muitas opções de torneios a níveis nacionais ou continentais. Ao Atlético, nas décadas de 40 e 50, restou apenas a velha rotina: ganhar títulos estaduais nas costas da velha freguesia e se aventurar pelo mundo por excursões de amistosos. Com isso, o clube tomara para si sua mais nobre missão: honrar o nome de Minas no cenário esportivo mundial. Mais que isso, recuperar o prestígio do futebol brasileiro - enxovalhado pelo vexame diante do Uruguai, na final da Copa do Mundo. O Atlético - primeiro clube brasileiro a excursionar pela Europa depois da implantação do profissionalismo no futebol - não preciso comentar que o auge do futebol brasileiro, a nível de clubes, até hoje, é a nossa excursão vitoriosa pela Europa em 1950."




Kafunga, Carlyle, Murilo Silva, Ramos, Zé do Monte, Lucas Miranda, Ubaldo, Nívio Gabrich, Tião, Afonso, Alvinho, Carango, Lêro, Haroldo, Paulo Valentim, Vavá... É impossível falar do Atlético daqueles tempos sem cometer omissões terríveis. Mão de Onça, Sinval, outros dois dos maiores goleiros alvinegros. Mexicano, por exemplo, foi um dos atletas mais completos de seu tempo. Tomazinho, Gastão, craques de futebol refinadíssimo. Amorim, que além de muito bom de bola, era genro do saudoso Nicolino Lauria, o Nicola, titular do ataque magistral ao lado de Rezende e Guará e que permanecera no clube por exatos treze anos... A lista dos craques durante essas décadas é quilométrica. Além dos craques dentro dos gramados o clube fora comandado por grandes gênios do pensamento futebolístico. O técnico uruguaio Ricardo Diez, e treinador Yustrich, foram também dois importantes personagens. Essa constelação de craques e apaixonados pelo Atlético fez dessas gerações as verdadeiras décadas de ouro do futebol de Minas Gerais. Hoje, dadas as novas fórmulas de administrar-se o futebol, é praticamente impossível que um clube do futebol brasileiro consiga fabricar tantos craques em uma única geração, e mais que isso, que consiga mantê-los, por mais de dez anos, vitoriosos, honrando sempre o mesmo escudo e as mesmas cores.



Ricardo Diez conversa com Márcio no início dos anos 50








Referências 

  • GALUPPO, Ricardo. Raça e Amor - A Saga do Clube Atlético Mineiro Vista da Arquibancada. BDA, 2003. Coleção Camisa 13. 173 p. ISBN 8572342818

domingo, 1 de maio de 2016

ANÍBAL MACHADO E O PRIMEIRO JOGO















        A primeira partida oficial do Clube Atlético Mineiro foi realizada quase um ano depois de sua fundação, no dia 21 de março de 1909. Na ocasião o Galo venceu o Sport Club Football, o time mais antigo da cidade, por 3 a 0, na casa do adversário. Desde o primeiro jogo da história do clube, o Atlético já contava com uma fervorosa torcida. Neste dia, a torcida atleticana já contava com inúmeros trabalhadores do centro da cidade, e principalmente, pelo pelotão da torcida feminina organizada por Alice Neves, que além de estarem vestidas com roupas alvinegras, portavam bandeiras e se posicionavam verbalmente à favor do time.

"Esses meninos praticaram futebol durante um ano, até que em 21 de março de 1909, para comemorar o primeiro aniversário, disputam a primeira partida da história. Na época do jogo, o magricela Pingo conseguira a posição de Mário Lott. Mário Neves tomava o lugar de Francisco Monteiro. E Zeca Alves agora ocupava a vaga de Horácio Machado. Com esses três jogadores, o Atlético entrou em campo para enfrentar justamente o Sport Club Football, o time mais experiente de Belo Horizonte. O jogo seria realizado num campo localizado no início da avenida Afonso Pena. (No mesmo terreno, anos depois, seria construído o prédio da Secretaria da Agricultura de Minas Gerais). A torcida feminina, comandada por Alice Neves, estava em cena, de uniformes novinhos: blusas brancas e saias de seda preta que cobriam até os tornozelos das moças. " 


        Esse lendário jogo contra o Sport ocorreu em um dia chuvoso na ainda infantil e imatura capital mineira. Aqueles meninos pareciam presas fáceis ao rival poderoso. Era um amontoado de jovens sonhadores contra um requintado grupo de jogadores já experientes.
Foi um jogo de casa cheia, e foi difícil, muito difícil. O primeiro tempo ficou zero a zero. Veio o segundo, e do banco, a consagração do primeiro técnico: entraram Aníbal Machado (o Pingo), Mário Neves (o filho de Dona Alice Neves) e Zeca Alves.

        Em determinado momento, a defesa do Sport bobeou e não se deu conta do avanço de Pingo. Arisco, o rapaz correu, invadiu a área do adversário e fuzilou. 1 a 0 para o Atlético. Pingo, o autor da façanha, era o apelido de Aníbal Machado. Mais tarde este jovem se mudaria para o Rio de Janeiro e escreveria seu nome também no primeirissímo time da literatura brasileira.

O primeiro gol do Clube Atlético Mineiro fora então marcado por ninguém menos que Aníbal Machado, autor de "João Ternura", "Tati, a garota" e "Viagem aos seios de Duília".

        Zeca Alves e Mário Neves fizeram os outros gols da nossa primeira partida.
Inconformado com a derrota para um time de garotos, o Sport pediu a revanche e, novamente, perdeu. Agora por 2 x 0. Já revoltados, os diretores do Sport pediram mais um jogo. Para não deixar dúvidas, o Galo não perdoou e aplicou 4 x 0. Mais de 3.000 pessoas assistiram as outras vitórias atleticanas. Com o Sport tendo perdindo a segunda revanche e sendo derrotado mais uma vez, acabou-se - a humilhação era maior que sua arrogância - O Sport Club não resistiu: os nove gols que levou em três jogos foram suficientes para decretar sua extinção, e quase todos os seus integrantes passaram para o quadro atleticano, tornando-o mais forte ainda. A partir daí, o Atlético ganhava de vez o título de melhor time de Minas Gerais, em 1909.

        Além de ser um dos fundadores do Atlético o grande Aníbal ainda jogaria por três anos. No seu primeiro ano, se saiu o artilheiro do time na temporada. Posteriormente participaria também da diretoria do clube. Aníbal que hoje é considerado um dos maiores literatos da história do Brasil, também teve sua importância no campo do teatro, além de ter sido um renomado professor. Mas seu maior feito fora ter feito o primeiro gol da história do Clube Atlético Mineiro. Salve Aníbal Machado!






Referências 
  • GALUPPO, Ricardo. Raça e Amor - A Saga do Clube Atlético Mineiro Vista da Arquibancada. BDA, 2003. Coleção Camisa 13. 173 p. ISBN 8572342818

A TORCIDA QUE GANHA JOGO



Futebol? Trata-se de folclore. E já está mais que provado: futebol é sobre dar raça; não apenas o jogador, dentro do campo, mas para todo Ser que vive a intensidade do Clube Atlético Mineiro: aqueles escolhidos que vão ao estádio onde o Atlético joga tem a tarefa, sempre bem cumprida, de "festejar" como ninguém - ganhar na festa, no canto, no grito. Fazer mais barulho que qualquer outro torcedor do planeta possa ter a ousadia de tentar - a Massa vibra como nenhuma outra.



A Massa do Galo provou que é das poucas do mundo que consegue atingir um nível de vibração e intensidade, onde o frenesi da Massa chega a interferir de maneira sobrenatural nos jogadores que estiverem disputando a partida no Mineirão. Lembremos do misterioso tombo de Ferreyra "na hora H" na final da Libertadores.


Me recordo do jogo da volta da Recopa de 2014 onde o Galo forte vingador honrou o seu hino de maneira que transcendesse não só os aspectos da letra de Vicente Motta, mas fazendo juz diretamente ao "segundo" hino da Massa, mostrando que se em 1997 os covardes do Sul de Buenos Aires não aguentaram tomar de 4 a 1, na final em "La Fortaleza", e apelaram para a covardia, a vingança ao nosso freguês argentino seria berrada pela segunda vez à plenos pulmões:


"Chora, não vou ligar
Chegou a hora
Vais me pagar
Pode chorar, pode chorar
É, o teu castigo
Brigou comigo
Sem ter porquê
Vou festejar, vou festejar
O teu sofrer, o teu penar"




Voltemos ao início dos anos 90, na nossa primeira conquista da Copa Conmebol em 1992 - Como foi consolidado o placar no primeiro jogo da semi-final contra o Nacional do Equador, no Mineirão? No grito. A Massa, como sempre, extrapolou os limites do alento e como só ela consegue, botou aquela grandiosa estrutura de concreto pra vibrar ao ponto de interferir psicologicamente nos jogadores adversários, impondo uma grande dose de pressão para os visitantes.
Dados à parte, das quatro finais dos títulos sulamericanos disputadas no Mineirão, o Atlético venceu todos os jogos, e em dois desses, ocorreu o inusitado fato de um jogador adversários fazer gol contra, e acima de tudo, de maneiras totalmente bizarras. Claramente a atmosfera criada pela torcida exprimiu esse medo: ambos os gols-contra foram decisivos e no fim do jogo. Em 1992 o Galo precisava vencer por 2 gols de diferença, e o placar foi alcançado no fim do jogo, após muita pressão na área adversária, o zagueiro Quiñonez, na tentativa de se afastar dos atacantes, correu com a bola em direção ao próprio gol e afobadíssimo, acabou empurrando a bola pro fundo de sua própria rede, levando a Massa ao delírio com a classificação épica para a final da Copa Conmebol.
E o último gol da final da Recopa? O lance bobo do experiente Ayala demonstrou, mais uma vez, todo o nervosismo que os jogadores adversários experimentam ao enfrentar o Clube Atlético Mineiro sob a tutela de seu povo devoto.
GAAAAALÔÔÔÔÔÔÔÔÔ!!!

LOUCURA ATLETICANA



O Galo é oficialmente o clube de fora do Eixo Rio-São Paulo mais popular do Brasil.



-Ser atleticano é uma paixão. Daquelas bem Lupicínio Rodrigues. Arrebatadora. Ser Galo é viver eternamente apaixonado - coração em chamas, a respiração ofegante. É como estar à beira do infarto. Ou como sentir a pele macia, a voz aveludada, o perfume inebriante da mulher amada, estando atracado a ela - ao fundo um tango de Piazzola. Ou um samba rasgado, assim como o "Vou festejar", cantado pela nação atleticana. É cachaça, chope gelado, uísque... É de embriagar! Por isso ser atleticano é ser radical. É uma alegria ou uma dor! É ser a esperança de virar o jogo até o último segundo. 

Ser atleticano é deliciar-se com a história do clube que teve seu primeiro gol marcado por um romancista - Aníbal Machado.

Mas, acima de tudo, ser atleticano é viver o Clube Atlético Mineiro como extensão da própria vida.



VANTUIR, O ZAGUEIRO DE TELÊ



Atleticano de Belo Horizonte, o xerifão nasceu no dia 16 de novembro de 1949 e iniciou sua carreira no futebol ainda muito jovem nos clubes de várzea. Em 1967 foi levado para o Acesita E.C. de Timóteo-MG, e logo foi cobiçado pelo Atlético.
Depois de dez meses no Acesita, aquele mesmo senhor que o levara para Timóteo o encorajou a tentar novamente seu sonho de jogar no Galo.
Assim, Vantuir reservou uma terça feira e faltou ao treino do Acesita, indo a Belo Horizonte enfrentar novamente o desafio de jogar no seu clube do coração. Depois de 20 minutos de bola rolando, Dequinha o tirou de campo com as seguintes palavras:
- Você fica! Pode ir lá em cima falar com a diretoria. Nem precisa voltar em Acesita para buscar suas coisas porque nós mandaremos buscar.
E foi assim que Vantuir iniciou sua história com a camisa do Atlético.
Zagueiro vigoroso e de ótima antecipação foi então ingressar no juvenil do alvinegro em 1968, e no ano seguinte assinava o seu primeiro contrato como profissional, tendo sua grande chance dada por Yustrich.



Um dia Telê olhou para Vantuir de uma forma diferente. Chamou o garoto de canto e disse em bom tom:
- Você é alto e rápido. Vai jogar no meu time de quarto zagueiro!
E Telê mostrou que estava certo. Depois de uma ótima estréia contra o Villa Nova, Vantuir foi eleito como melhor em campo, feito repetido na partida seguinte.
Além de quarto zagueiro, Vantuir também aprendeu a jogar na zaga central com a mesma eficiência. Ao lado de Grapete ou ainda Normandes, o miolo de zaga foi o ponto de equilíbrio do time que conquistou o campeonato brasileiro de 1971.
Ganhador da Bola de Prata da revista Placar em 1971, Vantuir foi convocado para integrar o selecionado canarinho que disputou e venceu a Taça Independência em 1972. Seu nome era presença quase certa no time de Zagallo para a disputa da Copa do Mundo de 1974 na Alemanha.
Em uma partida em Belém contra o Remo, Vantuir fraturou a tíbia e ficou afastado durante três meses. Ao retornar aos gramados, novamente sofreu com a cura mal feita de sua perna e novamente ficou mais quatro meses no estaleiro. Era o fim do sonho da Copa do Mundo!
Aos 19 anos, ele já assumia a condição de titular do time do Atlético, passando a ser um dos destaques de uma das maiores equipes da história do clube. O zagueirão Vantuir viveu todo o período áureo no Galo do final dos anos 1960 e início dos 1970 formando dupla de zaga intransponível com Grapete.
Vantuir era um zagueiro que hoje em dia faria um sucesso absurdo. Apesar de ser forte fisicamente e bom no jogo aéreo, ele era também um jogador de boa técnica, que dava qualidade à saída de bola da equipe.
Em 1971, na conquista do primeiro Campeonato Brasileiro pelo Atlético, Vantuir foi um dos principais jogadores do time comandado por Telê Santana. Participou de todas as 27 partidas da campanha, feito alcançado também pelo goleiro Renato, o volante Wanderley Paiva e o artilheiro Dario.
Antes do título brasileiro, Vantuir já tinha participado, em 1970, da conquista do primeiro título mineiro pelo Atlético na Era Mineirão. Ele foi campeão estadual ainda em 1976 e 1978, na sua última temporada no clube.

Ele jogou de 1968 a 1978 no Atletico, totalizando incríveis 507 partidas pelo clube alvinegro.
No Galo, o xerifão sagrou-se, além de Campeão Brasileiro, Campeão da Taça Belo Horizonte (1971), Bicampeão da Taça Minas Gerais (1975/76) e Tricampeão Mineiro (1970/76/78).

Dos campeões de 1971, Vantuir foi o último a sair do Atlético. Não foi, porém, uma resistência fácil. Foi uma fase repleta de acidentes. Em 1972, um processo e uma perna quebrada que o obrigou a ficar parado por mais de cinco meses. Em junho de 74, quando estava recuperando a forma, sofreu mais uma contusão. Valente lutou para manter a titularidade até seu ultimo jogo com a camisa do Galo, em 1978.

Salve Vantuir!


Referências 
  • GALUPPO, Ricardo. Raça e Amor - A Saga do Clube Atlético Mineiro Vista da Arquibancada. BDA, 2003. Coleção Camisa 13. 173 p. ISBN 8572342818


A VITÓRIA SOBRE A MELHOR SELEÇÃO DE TODOS OS TEMPOS

3 de setembro de 1969



Esse jogo é marcante por vários motivos. Primeiro, foi a estréia do primeiro bandeirão de uma torcida mineira. Segundo, porque o Atlético venceu a melhor seleção de futebol mundial de todos os tempos.


O Atlético - com a camisa vermelha da seleção mineira - abriu o placar com Amauri. No segundo tempo, após gol de empate de Pelé, Dario fez o tento da vitória.
De dentro do túnel, o técnico Saldanha esgoelava, não com seus jogadores, mas com os do Galo. Dizia que aquilo era um treino, não um jogo. O coitado não sabia que o lema do Alvinegro é vencer.
Fim de jogo, e o eterno herói Dario dá mais uma alegria à Massa: mostra o manto alvinegro escondido sob a da seleção mineira.


Referências 
  • GALUPPO, Ricardo. Raça e Amor - A Saga do Clube Atlético Mineiro Vista da Arquibancada. BDA, 2003. Coleção Camisa 13. 173 p. ISBN 8572342818

O GALO É A SELEÇÃO

Em pé: Wander, Grapete, Wanderley, Mussula, Normandes e Décio Teixeira.
Agachados: Ronaldo, Amauri, Vaguinho, Lola e Tião.


Em 1968 o Atlético foi a base da seleção brasileira.


Enquanto Saldanha punha a seleção nos trilhos, Yustrich tirava o máximo do Atlético. Em 19 de dezembro de 1968, o Alvinegro, com a camisa amarela da seleção brasileira, entrou em campo para enfrentar o time da Iugoslávia. Uma pedreira. Com poucos minutos, os iugoslavos abriram 2 a 0. As palavras do cronista Nelson Rodrigues explicam o que se passou por diante: "Quando se temia uma goleada, eis que o Atlético passou a uma reação maravilhosa. Sua equipe parecia morta e enterrada para o triunfo. E súbito, com os brios mais eriçados do que as cerdas bravas do javali, seus homens despertaram da falsa morte. Foi um espetáculo empolgante de paixão." No final, 3 a 2 para o Atlético, ou melhor, para o Brasil. Quando Amauri fez o terceiro tento alvinegro, Yustrich invadiu o campo, e abraçou o jogador. Depois, o Atlético fez amistosos contra Hungria, 2 a 2 e o 2 a 1 sobre a União Soviética na estréia do grande herói Dadá Maravilha diante do Mineirão lotado. Até que chegou o famoso 3 de dezembro de 1968, dia de enfrentar o escrete de Saldanha. Dia da façanha alvinegra - Atlético contra o Brasil - e lá estava ele, Dario: 2 a 1. Fora o olé. O Atlético sobrou em campo e levou a Massa ao delírio.


Referências 
  • GALUPPO, Ricardo. Raça e Amor - A Saga do Clube Atlético Mineiro Vista da Arquibancada. BDA, 2003. Coleção Camisa 13. 173 p. ISBN 8572342818

Crônicas de Roberto Drummond // Um dia de 71

19 de dezembro de 1971
O Galo encararia o Botafogo naquela tarde no Maracanã, precisando apenas de um empate para ser o primeiro campeão brasileiro.


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Se fizerem um eletrocardiograma da bola, verão que até ela está com o coração batendo na garganta.
Vocês dirão que não - que bola não pensa, que bola não sente. Ah, ingênuos: a bola sempre soube que rede beijar, que rede abraçar. E o sim dela, às vezes deixando para última hora, para nos fazer sofrer, costuma ser dado, em 69% dos casos, a quem merece. Isto é, a quem, desde a primeira vista desde Campeonato nacional, pôs amor em tudo que fez.
Daí eu acreditar no Atlético.
Comparem os três finalistas. Mais do que o São Paulo, mais que o Botafogo, o Atlético veio merecendo ser o campeão. Era só um turno - o Atlético se classificou pelas próprias pernas, sem nada da ajuda da CBC que acabou mantendo a esperança do São Paulo e, tambem, do Botafogo.
Depois, quando ampliaram tudo, em nenhum momento o Botafogo e o São Paulo conseguiram merecer mais.
Houve ocasiões, sim, em que mereceram tanto quanto o Atlético, mas nunca mais que o Atlético.
Ainda que fria, ainda que indiferente, a bola levará isso em conta.
Eu acho que tudo na vida é uma questão de merecer.
Se nós sabemos que merecemos o descanso de pés descalços, ficamos de pés descalços.
Os jogadores do Atlético podem estar tranquilos, estão tocados por essa certeza. Quer dizer, então, que eles acreditam que, num balanço de tudo que houve, são os que estão capacitados e predestinados para serem os campeões. Ora, as pessoas assim na grama ou fora da grama, não mais fortes, são mais corajosos, são mais tranquilos.
As pessoas assim são quase invencíveis.
E que tem uma fé ou certeza e sabem: somos melhores. Por essa razão é que gostei que o jogo fosse lá. Uma vitória aqui, um empate aqui não terão o mesmo gosto da vitória lá, do empate lá. Para que ninguém mais tenha dúvida, é indispensável que, no Maracanã, com grama, solta ou molhada, o Atlético seja o campeão.
*
É necessário haver um equilíbrio da vontade e da cabeça fria, e o Atlético de Telê, bem mais do que no ano passado, mostrou uma evolução tática, técnica e psicológica.
Este ano no nacional, o Atlético conseguiu ser bom também longe de Minas. Tão bom que pode, logo mais, repetir seus melhores jogos e impor seu ritmo ao adversário, porque na hora em que o ritmo for do Atlético, haverá um confronto dos onze jogadores. E a vantagem será do Atlético, pois, um um, seus jogadores são melhores.
Telê está com o esquema pronto para a questão do ritmo.

Nós todos éramos crianças - e muitos de vocês nem nascidos eram - , e já diziam que futebol não tem lógica.
Nos 90 minutos, há sempre uma lógica, pois não se ganha de véspera, e a lógica funciona só a partir do início de um jogo. Mas conhecendo Telê, conhecendo o esquema de jogar do Atlético, conhecendo os 11 jogadores do Atlético, eu não tenho dúvida: o Atlético está maduro, tática, técnica e psicologicamente para ser o campeão.
De mãos secas, coração sossegado, eu confio e espero.
Espero que, em nome do melhor esquema de jogo do nosso país em 1971, o Atlético seja, logo mais, o campeão brasileiro, porque de Renato a Romeu (ou Tião) há uma luz clareando o Atlético.
A luz dos campeões, dos verdadeiros campeões.
Roberto Drummond

MÁRIO DE CASTRO, O MAIOR





Mário nosso que estais no céu

Santificado seja vosso nome

Venha a nós, o vosso reino

Seja feita a vossa vontade

Mário de Castro não foi apenas um jogador apaixonado. Ele viveu o Atlético. Ele foi o Atlético. Ele é o Atlético. Se Mário é o Atlético, nós somos Mário de Castro.

Mas Mário não é apenas um senhor do Atleticanismo. Ele é também um senhor de todo o futebol: Numa época em que o futebol tinha pouca estrutura, um calendário tímido, com encontros em poucos finais de semana do ano, Mário de Castro marcou incríveis 195 gols em apenas 100 partidas, tornando-se assim, o jogador profissional com a maior média de gols por partida da história do futebol mundial, com a imbatível média de 1,95 por jogo.

Nascido em 30 de junho de 1905 ele chegou em Belo Horizonte, vindo do interior, em 1925. Mário de Castro foi morar numa república de estudantes, na rua dos Carijós, procurando pelo futebol. Foi levado por um amigo para treinar no América e foi aceito sem problemas, vista tamanha qualidade. Participou do treinamento e depois sumiu - mandou dizer que estava adoentado. No outro dia, atravessou a avenida Paraopeba, e foi ao campo do Atlético, seu grande amor. No primeiro treino, o técnico Chico Neto já o escalou entre os titulares. Na sua estréia como profissional, contra o próprio América, grande rival da época, o craque anotou três tentos numa goleada por 6 a 3. Mário só iria sair do time quando se aposentou dos gramados.

Center-forward de nascença, o imortal Mário de Castro não defendeu nenhum time de futebol que não fosse o Clube Atlético Mineiro.
Mário foi o primeiro jogador de Minas Gerais a ser convocado para a seleção brasileira e recusou: O jogo de inauguração do estádio de Lourdes foi visto por um diretor da CBD, Horácio Werner, e por um representante da Associação dos Cronistas Desportivos do Rio, Aloysio de Hollanda Távora. Os dois ficaram espantados com o futebol do craque atleticano. Alguns dias depois, Mário recebeu um comunicado: deveria se apresentar no Rio de Janeiro para integrar a seleção brasileira de futebol.
"Respondi que só visto a camisa do Atlético" — Mário de Castro.

O gênio goleador vinha de uma família tradicional conservadora mineira. E o futebol, era visto com maus olhos ainda pela sociedade. Órfão de pai desde menino, foi criado com mais quatro irmãos por sua mãe viúva, dona Regina, mulher de grande personalidade. Convicta de que seu filho deveria seguir uma carreira sólida, proibiu Mário de jogar futebol. Nos primeiros anos de carreira, para que a mãe não descobrisse que o filho rebelde se tornara jogador, Mário chegou a atuar primeiramente sob um pseudônimo: Orion.
Algumas vezes, na hora da foto, cobriu o rosto com a mão ou simplesmente saiu da foto.
Mário conseguiu manter a dupla identidade pelo menos dois anos. Mas chegou uma hora em que não houve jeito. Regina descobriu tudo. Alguns dizem que, num momento de descuido, o rapaz não percebeu a presença de um fotógrafo. O retrato foi estampado nas páginas de um jornal, que acabou chegando às mãos da mãe, em Formiga. Outra versão dá conta de que um torcedor rival, "alguém do Palestra Itália", havia escrito uma carta para Regina: fora a revelação de que Mário estava jogando bola a carta continha também uma série de ameaças: Dizia que o artilheiro iria sair de campo com uma perna quebrada se participasse do jogo no próximo final de semana, contra o próprio Palestra. Um golpe baixo de um time que sempre foi baixo.
Regina resolveu tomar uma providência - arrumou as malas e embarcou no trem noturno da Estrada de Ferro Oeste Minas - seu filho iria parar de vez com aquela mania de jogador e voltar imediatamente para casa - Jamais imaginaria ela, que a república onde Mário morava, era na verdade, a sede paralela do Clube Atlético Mineiro. Mário recebeu e ouviu calado tudo o que a mãe tinha para falar, e no final, ele mostrou para ela sua caderneta bancária com as anotações, tostão por tostão, do dinheiro que ele e o Clube passaram a fazer desde que passou a fazer sucesso em campo.
O futebol lhe dava o suficiente para viver. A mãe se convenceu de que o filho poderia perfeitamente se manter em Belo Horizonte sem sua ajuda. Ela também viu que o futebol não era tão nocivo assim. Afinal, o saldo da caderneta era expressivo. Tranquila ela retornou para Formiga. E o Atlético continuou em Mário. Mário continuou no Atlético - Viva o Galo!

Mário de Castro se tornou o nome mais conhecido e emblemático do futebol de Minas, atuando pelo Trio Maldito por cinco temporadas: Mário fez entre os anos de 1926 e 1931, um total de 99 partidas pelo Galo marcando nesse período 194 gols. "Mário de Castro nunca chutava uma bola fora. Ou o goalkeeper defendia, ou ela entrava. Nunca ia fora." — José Secondino Dos Santos.
Fabuloso, quem o viu jogar garante: poucos jogadores da história tiveram a técnica de Mário de Castro. "Ele dava um chute forte e a bola pegava um efeito tão impressionante que voltava para seus pés." — Fileto de Oliveira Sobrinho.
Tido como um mito e considerado o melhor atacante da época, sua melhor temporada foi a de 1927, quando marcou 44 gols, 20 deles pelo Campeonato Mineiro: Nesse ano, em jogo contra o Villa Nova, em Nova Lima , o Atlético perdia por 4 a 1 e precisava vencer para ficar com o título do Campeonato Mineiro. No intervalo, os torcedores do Villa faziam chacota, perguntando onde estava o grande Mário de Castro.
Ao voltar para o segundo tempo, o gênio divino acordou. Em apenas 15 minutos, ele marcou quatro gols seguidos. O Atlético virou o jogo para 5 a 4 e conquistou o campeonato de forma inesquecível. Neste mesmo campeonato liderou a trinca de ouro alvinegra na épica goleada sobre o time de azul por 9 a 2. "Mário de Castro jogava muito mais do que Pelé", afirma categoricamente José Secundino, que já viu desfilar todos os grandes craques nos campos do futebol brasileiro.

O golpe de 1930, no qual Minas Gerais se envolveu até o pescoço, fez o Atlético se retirar do Campeonato Mineiro. A República Moura Costa transformou-se numa espécie de comitê de apoio a Getúlio Vargas e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. No ano seguinte, 1931, o time voltaria a ser campeão estadual, mas as comemorações pela conquista tiveram um travo amargo: era o último campeonato de Mário de Castro. Mário havia encerrado sua carreira por causa de um tumulto ocorrido após a final do campeonato Mineiro de 31: o Galo sagrou-se campeão sobre o Villa Nova. Em dado momento das comemorações formou-se uma enorme briga e um torcedor acabou esfaqueado. O rapaz morreu. O interesse de Mário pelo futebol nunca mais foi o mesmo depois desta marcante tragédia. Ele diria que o esporte não era para trazer violência e sim para acabar com ela, e "pendurou as chuteiras".
Em 1945 , Mário voltaria aos gramados para fazer seu último jogo, o de número 100, marcando nesse, seu último gol, o de número 195, criando assim a maior média de gols de um atacante em toda a história do futebol.

Mário ainda acompanhou as partidas do Galo pela TV, em seus últimos anos de vida, irritando-se profundamente quando percebia que um jogador não dava tudo de si. Mário de Castro subiu aos céus em 29 de abril de 1998.

Salve Mário de Castro! Viva o Galo!



Referências 
  • GALUPPO, Ricardo. Raça e Amor - A Saga do Clube Atlético Mineiro Vista da Arquibancada. BDA, 2003. Coleção Camisa 13. 173 p. ISBN 8572342818