Mário nosso que estais no céu
Santificado seja vosso nome
Venha a nós, o vosso reino
Seja feita a vossa vontade
Mário de Castro não foi apenas um jogador apaixonado. Ele viveu o Atlético. Ele foi o Atlético. Ele é o Atlético. Se Mário é o Atlético, nós somos Mário de Castro.
Mas Mário não é apenas um senhor do Atleticanismo. Ele é também um senhor de todo o futebol: Numa época em que o futebol tinha pouca estrutura, um calendário tímido, com encontros em poucos finais de semana do ano, Mário de Castro marcou incríveis 195 gols em apenas 100 partidas, tornando-se assim, o jogador profissional com a maior média de gols por partida da história do futebol mundial, com a imbatível média de 1,95 por jogo.
Nascido em 30 de junho de 1905 ele chegou em Belo Horizonte, vindo do interior, em 1925. Mário de Castro foi morar numa república de estudantes, na rua dos Carijós, procurando pelo futebol. Foi levado por um amigo para treinar no América e foi aceito sem problemas, vista tamanha qualidade. Participou do treinamento e depois sumiu - mandou dizer que estava adoentado. No outro dia, atravessou a avenida Paraopeba, e foi ao campo do Atlético, seu grande amor. No primeiro treino, o técnico Chico Neto já o escalou entre os titulares. Na sua estréia como profissional, contra o próprio América, grande rival da época, o craque anotou três tentos numa goleada por 6 a 3. Mário só iria sair do time quando se aposentou dos gramados.
Center-forward de nascença, o imortal Mário de Castro não defendeu nenhum time de futebol que não fosse o Clube Atlético Mineiro.
Mário foi o primeiro jogador de Minas Gerais a ser convocado para a seleção brasileira e recusou: O jogo de inauguração do estádio de Lourdes foi visto por um diretor da CBD, Horácio Werner, e por um representante da Associação dos Cronistas Desportivos do Rio, Aloysio de Hollanda Távora. Os dois ficaram espantados com o futebol do craque atleticano. Alguns dias depois, Mário recebeu um comunicado: deveria se apresentar no Rio de Janeiro para integrar a seleção brasileira de futebol.
"Respondi que só visto a camisa do Atlético" — Mário de Castro.
O gênio goleador vinha de uma família tradicional conservadora mineira. E o futebol, era visto com maus olhos ainda pela sociedade. Órfão de pai desde menino, foi criado com mais quatro irmãos por sua mãe viúva, dona Regina, mulher de grande personalidade. Convicta de que seu filho deveria seguir uma carreira sólida, proibiu Mário de jogar futebol. Nos primeiros anos de carreira, para que a mãe não descobrisse que o filho rebelde se tornara jogador, Mário chegou a atuar primeiramente sob um pseudônimo: Orion.
Algumas vezes, na hora da foto, cobriu o rosto com a mão ou simplesmente saiu da foto.
Mário conseguiu manter a dupla identidade pelo menos dois anos. Mas chegou uma hora em que não houve jeito. Regina descobriu tudo. Alguns dizem que, num momento de descuido, o rapaz não percebeu a presença de um fotógrafo. O retrato foi estampado nas páginas de um jornal, que acabou chegando às mãos da mãe, em Formiga. Outra versão dá conta de que um torcedor rival, "alguém do Palestra Itália", havia escrito uma carta para Regina: fora a revelação de que Mário estava jogando bola a carta continha também uma série de ameaças: Dizia que o artilheiro iria sair de campo com uma perna quebrada se participasse do jogo no próximo final de semana, contra o próprio Palestra. Um golpe baixo de um time que sempre foi baixo.
Regina resolveu tomar uma providência - arrumou as malas e embarcou no trem noturno da Estrada de Ferro Oeste Minas - seu filho iria parar de vez com aquela mania de jogador e voltar imediatamente para casa - Jamais imaginaria ela, que a república onde Mário morava, era na verdade, a sede paralela do Clube Atlético Mineiro. Mário recebeu e ouviu calado tudo o que a mãe tinha para falar, e no final, ele mostrou para ela sua caderneta bancária com as anotações, tostão por tostão, do dinheiro que ele e o Clube passaram a fazer desde que passou a fazer sucesso em campo.
O futebol lhe dava o suficiente para viver. A mãe se convenceu de que o filho poderia perfeitamente se manter em Belo Horizonte sem sua ajuda. Ela também viu que o futebol não era tão nocivo assim. Afinal, o saldo da caderneta era expressivo. Tranquila ela retornou para Formiga. E o Atlético continuou em Mário. Mário continuou no Atlético - Viva o Galo!
Mário de Castro se tornou o nome mais conhecido e emblemático do futebol de Minas, atuando pelo Trio Maldito por cinco temporadas: Mário fez entre os anos de 1926 e 1931, um total de 99 partidas pelo Galo marcando nesse período 194 gols. "Mário de Castro nunca chutava uma bola fora. Ou o goalkeeper defendia, ou ela entrava. Nunca ia fora." — José Secondino Dos Santos.
Fabuloso, quem o viu jogar garante: poucos jogadores da história tiveram a técnica de Mário de Castro. "Ele dava um chute forte e a bola pegava um efeito tão impressionante que voltava para seus pés." — Fileto de Oliveira Sobrinho.
Tido como um mito e considerado o melhor atacante da época, sua melhor temporada foi a de 1927, quando marcou 44 gols, 20 deles pelo Campeonato Mineiro: Nesse ano, em jogo contra o Villa Nova, em Nova Lima , o Atlético perdia por 4 a 1 e precisava vencer para ficar com o título do Campeonato Mineiro. No intervalo, os torcedores do Villa faziam chacota, perguntando onde estava o grande Mário de Castro.
Ao voltar para o segundo tempo, o gênio divino acordou. Em apenas 15 minutos, ele marcou quatro gols seguidos. O Atlético virou o jogo para 5 a 4 e conquistou o campeonato de forma inesquecível. Neste mesmo campeonato liderou a trinca de ouro alvinegra na épica goleada sobre o time de azul por 9 a 2. "Mário de Castro jogava muito mais do que Pelé", afirma categoricamente José Secundino, que já viu desfilar todos os grandes craques nos campos do futebol brasileiro.
O golpe de 1930, no qual Minas Gerais se envolveu até o pescoço, fez o Atlético se retirar do Campeonato Mineiro. A República Moura Costa transformou-se numa espécie de comitê de apoio a Getúlio Vargas e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. No ano seguinte, 1931, o time voltaria a ser campeão estadual, mas as comemorações pela conquista tiveram um travo amargo: era o último campeonato de Mário de Castro. Mário havia encerrado sua carreira por causa de um tumulto ocorrido após a final do campeonato Mineiro de 31: o Galo sagrou-se campeão sobre o Villa Nova. Em dado momento das comemorações formou-se uma enorme briga e um torcedor acabou esfaqueado. O rapaz morreu. O interesse de Mário pelo futebol nunca mais foi o mesmo depois desta marcante tragédia. Ele diria que o esporte não era para trazer violência e sim para acabar com ela, e "pendurou as chuteiras".
Em 1945 , Mário voltaria aos gramados para fazer seu último jogo, o de número 100, marcando nesse, seu último gol, o de número 195, criando assim a maior média de gols de um atacante em toda a história do futebol.
Mário ainda acompanhou as partidas do Galo pela TV, em seus últimos anos de vida, irritando-se profundamente quando percebia que um jogador não dava tudo de si. Mário de Castro subiu aos céus em 29 de abril de 1998.
Salve Mário de Castro! Viva o Galo!
Referências
Referências
- GALUPPO, Ricardo. Raça e Amor - A Saga do Clube Atlético Mineiro Vista da Arquibancada. BDA, 2003. Coleção Camisa 13. 173 p. ISBN 8572342818
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