25 de novembro de 1980
Com uma goleada de 5 a 1 sobre o América, comandada por Toninho Cerezo, o Clube Atlético Mineiro chega ao seu primeiro e até hoje único Tricampeonato estadual na era Mineirão. A hegemonia do Tricampeonato seguiria dando origem ao Hexacampeonato.
Por Roberto Drummond -
Rasguem o peito.
Tirem de lá o coração.
Guardem o coração no lugar em que se deve guardar um coração.
E, feito isso, usem a cabeça, poise é com a cabeça de vocês (e não com o coração) que eu hoje quero conversar, para analisar a vitória de 5 a 1 com a qual o Atlético nocauteou um América bravo que, apesar do massacre, jamais beijou a grama.
Se fosse utilizar o coração, eu podia começar falando em Cerezo.
Por que Cerezo foi o coração do Atlético.
Foi o sangue do Atlético.
Foi a alma do Atlético.
Foi ritmo alucinado e alucinante do Atlético.
Cerezo foi a vontade do Atlético.
Foi a determinação de vencer do Atlético.
Foi a indominável fé do Atlético.
Era a partir de Cerezo que o Atlético ritmava e cadenciava o jogo.
Era a partir de Cerezo que o Atlético encostava o América contra a parede.
Mas o Atlético não teve apenas Cerezo.
Na linha do coração, eu diria ainda que o Atlético teve onze lutadores em campo.
Não houve, contra o América, nenhum ponto morto no Atlético: de João Leite a Éder, todos estiveram muito bem.
Lá estava o coração de Alves, explodindo.
Lá estava a bomba no pé esquerdo de Éder, explodindo.
Lá estava a esperança de Palhinha, explodindo.
Eu até podia dar nota a alguns jogadores.
Cerezo: nota 10
Éder: nota 10
Palhinha: nota 10
...
E vocês podem estar se perguntando:
- E a nota do Rei, qual foi?
Eu respondo.
- Dou a Reinaldo nota 8, pela participação decisiva no jogo, inquietando os marcadores, mas não só por isso, pelo que fez (para só citar um exemplo, naquele belo passe para o maravilhoso gol de Éder).
Mas se Reinaldo fosse nota 10 o jogo teria terminado não 5, mas de 10 a 1.
Mas ainda não entrei no que quero.
Entro agora, pedi que vocês rasgassem o peito e guardassem o coração, que, certamente, usando o coração, não daria para ver.
Refiro-me à participação de Heleno.
Não só no gol e fúria, de raça, de talento, de oportunismo.
Mais do que no gol, na participação decisiva de Heleno para a mudança na maneira de jogar do Atlético, porque o Atlético de Procópio, pela primeira vez, fez o que eu, vocês sabem, não cansava de pedir: o Atlético, pela primeira vez, (eu repito), jogou no esquema certo, ou seja, Palhinha foi, realmente, o excelente ponta-de-lança que ele é, Palhinha jogou lado a lado, muito próximo de Reinaldo, lá na frente, e isso enlouqueceu nosso adversário.
Mas por que Palhinha pôde exercer sua verdadeira vocação, fazendo, para mim, a sua melhor exibição no Atlético?
Porque Heleno desobrigou o técnico Procópio de dar a Palhinha a tarefa de fazer o 4-3-3 pelo meio.
Porque Heleno libertou o Altético de uma punição: o 4-3-3 pelo meio. Além de tudo, Heleno é um atacante a mais que o Atlético pode ter.
Ora, a partir de Cerezo, sem esquecer de exibições individuais excelentes como as de Heleno, Éder, Palhinha, a partir de Cerezo, o Atlético passou a usar o seu grande potencial ofensivo, a partir de Cerezo, o Atlético jogou como deve jogar, acreditando na própria força.
Não, não foi o bravo América que tomou de 5.
Foi o grande Atlético (jogando um futebol solidário, criativo, ofensivo, irresistível) que venceu de 5.
Bom, agora abra o peito outra vez.
Recoloquem o coração onde o coração tem que ficar.
E deixem o coração gritar o nome daquele que foi o grande herói do jogo.
Deixem o coração gritar: Ce-re-zo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário