Ao chegar no Atlético, Chicão declarou: "Jamais imaginei que um dia iria jogar no Galo. Sempre quis atuar num time de massa, mas o Atlético é o máximo."
O volante chegou ao Atlético no início de 1980, quando todos o criticavam por um pisão que ele, ainda como capitão do São Paulo, dera em Ângelo na decisão do Brasileiro de 1977, no Mineirão. O jogo posteriormente foi para os pênaltis e o Atlético, que até então era o franco favorito ao título, viu acontecer a maior decepcão de sua história, com o Vice-Campeonato Invicto de 77.
5 de março de 1978, decisão do Campeonato Brasileiro de 1977. Atlético e São Paulo se enfrentam para decidir quem seria o Campeão Brasileiro. Decisão a parte, uma outra guerra foi travada no gramado do Mineirão. Uma guerra suja e covarde. Uma guerra que não foi disputada na bola, mas sim com intimidações, pontapés que não visavam a bola, cotoveladas, socos e etc. Resultado, uma baixa, Ângelo que saiu do gramado do Mineirão com a perna fraturada por conta da tamanha brutalidade paulista: ruptura completa do ligamento colateral externo; ruptura do bíceps femural; ruptura da clápsula externa e do tracto íliotibial.
Essa contusão aconteceu, depois de uma dividida entre Neca e Ângelo. Maldosamente, o jogador Neca entrou com o pé por cima da bola atingindo a perna do jogador mineiro. Não o bastante, quando Ângelo permanecia caido pedindo socorro médico veio Chicão e deu um pisão na perna quebrada de Ângelo. O juiz Arnaldo César Coelho - incrivelmente, ou convenientemente- não viu nada dos dois lances
Declaração de Chicão: “Jogo duro, mas na bola. Sou jogador forte. Eu não sabia que o Ângelo estava machucado, no momento em que lhe dei um pisão. Eu disse: levanta rapaz, pára com encenação! Pensa que eu machucaria um colega de propósito?”
Um repórter da Revista Manchete Esportiva entrevistou Ângelo já no hospital, no dia seguinte:
-Está sentindo dor Ângelo? –enquanto o jogador tenta erguer-se na cama.
-Eu vi tudo de novo.....tudo de novo!
-Tudo de novo como, Ângelo?
-É um pesadelo: eu vi o Neca vindo com a chuteira na direção da minha perna. Estava tudo meio cinza, mas eu vi a chuteira do Neca me pegando, do jeito que aconteceu....
-E, agora, Você sente dor?
-Sinto. Dói muito, como doeu na hora.
-Você via a torcida no pesadelo, Ângelo?
-Não, nem a grama eu via. Era tudo cinza...
-E o Chicão, você vê o Chicão no pesadelo?
-Não, o Chicão não, só o Neca…
Chicão e A Massa, por Kalil
Alexandre Kalil conta que na chegada de Chicão ao Atlético, em 1980 ele criticou seu pai pela contratação do volante, pois achava que aquela não fora uma boa investida por que ele já estava "queimado" com a torcida. Alexandre Kalil revela as sábias palavras de seu pai após seu comentário: "Papai falou : Você é novo, ainda não entendeu como funciona a torcida do Atlético. Na estréia dele você vai ver o Mineirão inteiro gritar o nome do rapaz."
O resto é História: na estréia de Chicão, A Massa mostrou seu apoio ao novo "soldado" e o jovem até então renegado pelo povo mineiro entrou em um Mineirão lotado gritando seu nome para um jogo contra, ironia do destino, o seu velho e sujo São Paulo.
Ao seguir daquele ano de 1980, Chicão ajudou o Atlético a manter sua hegemonia no Estado de Minas Gerais, pois o Galo havia acabado de ser Bi campeão de 1978 e 1979 e lutava pelo valioso rótulo de Tri-Campeão.
Aquele Chicão, que em 1977 foi crucificado pelo povo, se redimiu com a consagração do Tetra-Mineiro, participando como volante titular, formando um fortíssimo meio campo ao lado de Toninho Cerezo, conquistando os Campeonatos Mineiros de 1980 e 1981 . Acabou conquistando o povo preto&branco e seu jeito "durão" de jogar lhe rendeu o apelido de "Chefão".
A hegemonia atleticana só viria a ser quebrada em 1984 após a conquista do Hexa - a maior hegemonia do futebol mineiro moderno - 1978, 1979, 1980, 1981, 1982 e 1983
Referências
- GALUPPO, Ricardo. Raça e Amor - A Saga do Clube Atlético Mineiro Vista da Arquibancada. BDA, 2003. Coleção Camisa 13. 173 p. ISBN 8572342818
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